Em torno de “La Bête” (O bicho), de Wagner Schwartz.
Estava diante de mim e, ainda assim, não consegui ver.
Tendo a esquecer o insuportável.
Ela não sabia que estava sendo cruel.
[Cruel: predicado que o bicho, fingindo-se de coisa, confere sutil, como que dizendo “você não me vê, mas eu vejo você”*.]
“Com cuidado!”, levantou a voz o artista plástico Roberto Freitas.
Uma mulher estava em cena torcendo a perna do bicho vivo, nu, a ponto de poder prejudicar a articulação de seu joelho.
Foi o que me contaram.
Eu realmente não vi.
Não consegui ver.
Lembro-me de ter sentido abrupta fome, desconforto em estar longe de casa há tanto tempo.
Fui lambida por esse pensamento, como poderia a onda da brisa da manhã ter lambido o rosto de Clarissa Dalloway, no terraço de sua casa, a porta escancarada: incontornável.
Ela não sabia que estava sendo cruel.
* clara referência à música “O gosto do azedo”, de Rita Lee.
Luiza Rosa: para soprar ela escreve, para conhecer ela dança.