Wagner Schwartz X Luiza Rosa = O incontornável.

12/jan - 00:27

Em torno de “La Bête” (O bicho), de Wagner Schwartz.

 

Estava diante de mim e, ainda assim, não consegui ver.

Tendo a esquecer o insuportável.

Ela não sabia que estava sendo cruel.

 

[Cruel: predicado que o bicho, fingindo-se de coisa, confere sutil, como que dizendo “você não me vê, mas eu vejo você”*.]

 

“Com cuidado!”, levantou a voz o artista plástico Roberto Freitas.

Uma mulher estava em cena torcendo a perna do bicho vivo, nu, a ponto de poder prejudicar a articulação de seu joelho.

 

Foi o que me contaram.

Eu realmente não vi.

Não consegui ver.

Lembro-me de ter sentido abrupta fome, desconforto em estar longe de casa há tanto tempo.

Fui lambida por esse pensamento, como poderia a onda da brisa da manhã ter lambido o rosto de Clarissa Dalloway, no terraço de sua casa, a porta escancarada: incontornável.

 

Ela não sabia que estava sendo cruel.

 

* clara referência à música “O gosto do azedo”, de Rita Lee.

 

Luiza Rosa: para soprar ela escreve, para conhecer ela dança.